porque até os “bichos” tem um paraíso… afinal de contas, não existem “bichos”… tudo depende de quem os vê... e com os olhos que os vêem…

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Imagino-te…

Mais uma noite recordando quando aparecias nas asas da noite, como anjo perdido num céu qualquer.
Vinhas com o vento que soprava de Norte, para acalmar a minha vida...
Escorrias, como a chuva, pelo meu corpo que se entregava à tempestade...
e sentia-te, sem que me tocasses, como se fosses nada, invadindo todo o meu ser…
Davas-me de beber, como se fosses fonte de água fresca, que acalma o calor do Verão…
Cantavas-me ao ouvido, como se de música fosses feita...
Acariciavas-me a alma, com a tua voz, inaudível, que apenas eu escutava...
Quebravas em mim o silêncio dos passos perdidos num caminho que trilhava em busca de ti…
E era na madrugada da vida que te encontrava, como utopia, como desejo por concretizar, como aposta perdida, como quadro por pintar…
Afinal, é-me sempre permitido sonhar, recordar… mesmo quando os sonhos não passam disso mesmo, mesmo quando a realidade ofusca o brilho da esperança, mesmo quando, já não tenho forças para acreditar…
Agarro-me, ao corpo desnudo que gravei, sinto como meus os relevos da tua pele, inalo os aromas que guardei de ti, e faço-te, MULHER, diante de mim...
...moldando com minhas mãos o ar, o vazio, como se ganhassem formas voluptuosas de ti própria… contornos que apenas eu sei, imagens que apenas eu vejo…
E amo-a, como só o criador pode amar a sua criação, como só o poeta percebe a dor do seu poema, como só o artista compreende a sua arte…

Inspirado num blog de uma amiga (Lady B.)


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Votos de Felicidade

Pessoas consideradas inteligentes dizem que a felicidade é uma idiotice, que pessoas felizes não se deprimem, não têm vida interior, não questionam nada, são uns bobos alegres, enfim, que a felicidade anestesia o cérebro.
Eu acho justamente o contrário: cultivar a infelicidade é que é uma burrice. O que não falta nessa vida é gente sofrendo pelos mais diversos motivos: ganham mal, não têm um amor, padecem de alguma doença, sei lá, cada um sabe o que lhe dói. Todos trazem uns machucados de estimação, você e eu inclusive. No que me diz respeito, dedico a meus machucados um bom tempo de reflexão, mas não vou fechar a cara, entornar uma garrafa de uísque e me considerar uma grande intelectual só porque reflito sobre a miséria humana. Eu reflito sobre a miséria humana e sou muito feliz, e salve a contradição.
Felicidade depende basicamente de duas coisas: sorte e escolhas bem feitas. Tem que ter a sorte de nascer numa família bacana, sorte de ter pais que incentivem a leitura e o esporte, sorte de eles poderem pagar os estudos pra você, sorte por ter saúde. Até aí, conta-se com a providência divina. O resto não é mais da conta do destino: depende das suas escolhas.
Os amigos que você faz, se optou por ser honesto ou ser malandro, se valoriza mais a grana do que a sua paz de espírito, se costuma correr atrás ou desistir dos seus projetos, se nas suas relações afetivas você prioriza a beleza ou as afinidades, se reconhece os momentos de dividir e de silenciar, se sabe a hora de trocar de emprego, se sai do país ou fica, se perdoa seu pai ou preserva a mágoa pro resto da vida, esse tipo de coisa.
A gente é a soma das nossas decisões, todo mundo sabe. Tem gente que é infeliz porque tem um câncer. E outros são infelizes porque cultivam uma preguiça existencial. Os que têm câncer não têm sorte. Mas os outros, sim, têm a sorte de optar. E estes só continuam infelizes se assim escolherem.

Martha Medeiros